2 de out. de 2017

O LIVRO DA VIDA

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Por Douglas Elias

Tentarei através desse breve e resumido texto falar sobre um assunto de interesse comum de todos os cristãos do mundo, o “Livro da Vida”. Quem de nós nunca ouviu falar desse tão temido (por aqueles que praticam a iniquidade) e tão amado (por aqueles que estão em Cristo) livro? Segundo as Escrituras Sagradas, há no Céu a existência de alguns livros, e entre estes, um livro que contém o nome daqueles que serão salvos por Deus da destruição final por ocasião de sua volta, e que desfrutarão de uma vida plena e eterna de felicidades ao seu lado, no tão sonhado paraíso, a saber, o Livro da Vida. Todos os cristãos sinceros acreditam ter seus nomes escritos por Deus neste Livro, desde que segundo eles, continuem a serví-lo e obedecê-lo em sinceridade de coração. Caso contrário, poderão ter seus nomes apagados por Deus sem misericórdia nenhuma.

É bastante comum, principalmente nas igrejas pentecostais e neopentecostais vermos e ouvirmos pregadores em suas orações pelos arrependidos, que após a Palavra no culto desejam retornar aos braços do Pai eterno, o pedido de que Ele [Deus] receba essas pessoas e que “ESCREVA” (no caso de pessoas que nunca foram cristãs) ou “REESCREVA” (no caso das pessoas que já foram) seus nomes no Livro da Vida. Mas, será que a Bíblia realmente ensina que Deus apaga o nome das pessoas que se desviam de seu caminho do Livro da Vida ou acrescenta o nome daqueles que são convertidos no decorrer da história? Vamos analisar o texto principal usado por aqueles que defendem esta posição: “Agora, portanto, eu rogo a tua misericórdia para que lhe perdoes o pecado; caso contrário, risca-me, rogo-te, do teu livro sagrado que escreveste!” Êxodo 32:33

Alguns se apropriam desse texto para defender a ideia de que Deus possa alterar esse Livro sempre que necessário, uma vez durante essa vida, o tempo todo, pessoas se convertem ou deixam de seguir o Evangelho. Segundo estes, o próprio Moisés assegurou e reivindicou tal pregorrativa, quando pediu a Deus que riscasse o seu nome do livro da vida, enquanto guiava o povo de Israel à terra prometida. Na verdade, devemos antes de qualquer coisa fazer uma análise do versículo, considerando o contexto em que tal pedido ocorre. No começo desse capítulo temos a descrição bíblica de que os israelitas haviam se precipitado devido a demora de Moisés no monte Sinai e construído um bezerro de ouro para adorar e servir, considerando que ele já estava morto. Após o retorno de Moisés, uma parte do povo se arrepende, enquanto os idólatras que se recusam, são mortos a espada. No dia seguinte, Moisés preocupado com as consequência dessa atitude do povo, roga a Deus que perdoe o povo ou então que risque o seu nome do livro que tinha escrito.

Quando observamos a história toda, fica perfeitamente simples compreender o pedido do patriarca Moisés, rogando a Deus que perdoe o pecado do povo ou que o mate no lugar deles. Suas palavras eram na verdade as de alguém que tinha um amor tão verdadeiro por aquelas pessoas e que preferia morrer, se preciso fosse, no lugar deles ao vê-los ser destruídos pelo Senhor. A Bíblia de Estudo John MacArthur apresenta o seguinte comentário a respeito do episódio: “Risca-me… do livro que escreveste”. Nada marcou mais fortemente o amor de Moisés pelo seu povo do que a sua sincera vontade de oferecer a própria vida em vez de vê-los deserdados ou destruídos. O livro ao qual Moisés se referiu, o salmista intitulou de “livro dos vivos” (Sl 69:28). Ser riscado do livro significaria morte intempestiva ou prematura. Qualquer um que leia os relatos bíblicos sobre a vida de Moisés poderá enxergar claramente esse sentimento de amor tão sublime e a preocupação tão forte que ele sentia pelo povo, isto, a ponto até mesmo de rejeitar a oportunidade oferecida por Deus, apelando para sua reputação, de ter uma nova linhagem começada por ele, conforme os relatos desse mesmo capítulo.

A resposta de Deus ao pedido de Moisés de que Ele “riscasse seu nome do livro” não deixa dúvidas quanto a real intenção do profeta. “Então disse o SENHOR a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro. Assim feriu o SENHOR o povo, por ter sido feito o bezerro que Arão tinha formado.” Êxodo 32:33;35 Esses versículos são a prova incontestável para resolver a questão e provar que em momento algum passou pela cabeça de Moisés o desejo de que Deus tirasse seu nome do Livro da Vida, privando-o da salvação, mas na verdade, seu cuidado pelas ovelhas de Deus. Até porque esse tipo de oração vai diretamente contra a mensagem explícita revelada pelo Espírito Santo de Deus nas Sagradas Escrituras. Até mesmo no meio teológico aqueles que têm diferentes posições em relação ao fator determinante na Eleição de Deus (se segundo a presciência divina ou se segundo a Sua livre vontade) concordam nesse aspecto, o Livro da Vida não pode ser alterado, pois ele foi escrito antes da fundação do mundo (Ap 13:8; 17:8). A Bíblia é clara e enfática ao negar a possibilidade de alguém ter seu nome escrito ou apagado do Livro da Vida, considerando que ele já foi escrito muito antes de nossa existência ou de qualquer coisa criada por Deus.

Ninguém tem seu nome escrito no Livro da Vida no dia da sua conversão. Aqueles que realmente serão salvos por Deus tiveram seus nomes escritos no Livro absolutamente antes de suas conversões e não no momento dela. A conversão é um processo que sucede a regeneração e que precede a santificação, tendo por resultado final a glorificação, e esta, foi contemplada por Deus no seu exaustivo conhecimento do universo. Há um elo inquebrável nesse processo, conforme o texto nos apresenta: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.” Romanos 8:29,30 Até porque, sejamos lógicos, se aceitarmos a ideia de que Deus precise alterar algo que ele já escreveu, apagando ou acrescentando para corrigir a história, teremos também que negar alguns de seus atributos divinos, tais como a sua presciência (capacidade prévia de saber o futuro), uma vez que ele não pôde prever qual pessoa se desviaria ao longo do percurso, ou então negamos a sua Soberania e governo sobre a história, levando juntamente consigo nessa ideia mais dois de seus atributos divinos, a onipotência e onisciência. O próprio Jesus [Deus Filho], deixou completamente claro que de modo nenhum riscaria o nome daqueles que vencessem do Livro da Vida e prometeu confessá-los diante do Pai, conforme o texto de Apocalipse 3:5. “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.”

A partir dessa verdade declarada por Jesus, a pergunta que fica aos que continuam a defender a ideia de que os nomes podem sim, serem apagados do Livro da Vida é: será que Jesus não sabia quando escreveu o Livro quais as pessoas que desistiram e quais prosseguiriam na fé até a morte? Esclarecido os pontos, devemos rejeitar então esse tipo de oração, uma vez que ela não se enquadra nas Escrituras Sagradas, onde é mais do que claro, que o nosso Deus sabe exatamente o que faz e nunca se engana. Ele sabe de tudo plenamente (onisciente), tem todo poder absolutamente (onipotente) e conhece o futuro completamente (presciente), e um desvio ou conversão no decorrer da caminhada cristã não seriam suficientes para surpreendê-lo. Ao contrário do que essa prática propõe, a Bíblia apresenta as seguintes descrições sobre aqueles que se perdem e que são seduzidos pelo pecado, como aqueles que nunca tiveram seus nomes escritos no Livro da Vida. “Todos os habitantes da terra adorarão a besta, a saber, todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo”. Apocalipse 13:8 “A besta que você viu, era e já não é. Ela está para subir do abismo e caminha para a perdição.

Os habitantes da terra, cujos nomes não foram escritos no livro da vida desde a criação do mundo, ficarão admirados quando virem a besta, porque ela era, agora não é, e entretanto virá.” Apocalipse 17:8 Conclui-se portanto, a partir do testemunho bíblico que nenhuma pessoa que teve seu nome escrito no Livro da Vida irá para a perdição do inferno, pois Deus ao escrevê-lo, não se baseou no começo ou no meio da história, mas em toda ela. Não há erro nos planos de Deus, Ele conhece o fim, desde o começo!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bíblia de Estudo MacArthur. Revista e atualizada, 2 ª edição. 1997 https://quaseteologa.wordpress.com/2016/06/09/o-livro-da-vida/

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17 de mar. de 2017

OS ÚLTIMOS COMPANHEIROS DO CORDEIRO - APOCALIPSE 14:1-5


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Apocalipse 14 cumpre a função de ser a contraparte positiva do capítulo 13. Aqui os santos que resistem o impacto dos poderes do anticristo recebem uma recompensa gloriosa por sua fidelidade. Vemos o Cordeiro de Deus em pé entre seus seguidores (Apoc. 14:1), em um contraste evidente com a besta e seus seguidores que se apresenta em Apocalipse 13.

Enquanto os que adorem a besta levam a marca do anticristo, os companheiros do Cordeiro levam o selo do Deus vivo em suas frentes (Apoc. 14:1). Apocalipse 13 prediz a maturação da apostasia com seu número 666. Apocalipse 14 nos assegura do juízo de Babilónia e da recompensa do povo de Deus com seu número 144.000. Evidentemente, Apocalipse 14 funciona como o complemento do capítulo 13. Um erudito crítico alemão ficou tão impressionado por Apocalipse 14, que o chamou "o ponto mais elevado formal e substancial do Apocalipse".1 Enquanto que os reformadores protestantes e os movimentos de reforma modernos apelam a Apocalipse 14 para demonstrar sua chamada divina, Ellen White reconhece que ainda não se alcançou seu significado completo:

"O capítulo 14 do Apocalipse é do mais profundo interesse. Logo será compreendido em todos seus alcances, e as mensagens dadas a João o revelador serão repetidas com clareza".2

A Visão da Igreja Triunfante
"E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, que em sua testa tinham escrito o nome dele e o de seu Pai. E ouvi uma voz do céu como a voz de muitas águas e como a voz de um grande trovão; e uma voz de harpistas, que tocavam com a sua harpa. E cantavam um como cântico novo diante do trono e diante dos quatro animais e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra. Estes são os que não estão contaminados com mulheres, porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai. Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro" (Apoc. 14:1-5).
A visão da igreja triunfante dá a conhecer a última geração de crentes cristãos que sobrevivem às ameaças finais do anticristo. Os 144.000 seguidores do Cordeiro são vitoriosos porque perseveram em sua lealdade a Cristo Jesus. Por seu rechaço a submeter-se à idolatria, venceram a besta. Demonstram que o anticristo não teve êxito em seu objetivo de estabelecer o domínio universal. Mas o céu intervirá dramaticamente no fim da era. O Cordeiro poderoso conquistará a besta em favor de seu povo do pacto. Esta segurança foi dada explicitamente pelo anjo interpretador:
"Estes [a besta e os reis da terra] combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com ele, chamados, eleitos e fiéis" (Apoc. 17:14).
Seu cumprimento se descreve em um quadro simbólico de surpreendente resgate divino:
"E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça" (Apoc. 19:11).
Esta visão majestosa constitui o cumprimento cristocêntrico da libertação do tempo do fim de que fala Daniel:
"Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro" (Dan. 12:1).
Tanto Daniel como Apocalipse centralizam a libertação final do povo do pacto de Deus sobre o monte Sião, "o monte glorioso e santo" (Dan. 11:45; Apoc. 14:1). O mesmo monte de ataque e de salvação se apresenta na profecia do Joel:
"E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o Senhor prometeu; e, entre os sobreviventes, aqueles que o Senhor chamar" (Joel 2:32).
Desde que o rei Davi colocou o arca de Jeová, símbolo da presença e do trono de Deus, no monte Sião, este monte foi chamado "santo". Chegou a ser o lugar simbólico de libertação na tradição profética (ver Sal. 2; 46; 48; 110). É muito significativo que o Apocalipse de João representa os 144.000 seguidores do Cordeiro em pé com o Cordeiro sobre o monte Sião:
"Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai" (Apoc. 14:1).
O monte Sião ou a cidade santa (Jerusalém) estão colocados em contraposição a Babilónia, mencionada em Apocalipse 14:8, 16:19 e 17:1-6. Sião e seu santuário, seu culto religioso e seus seguidores constituem a norma da verdade salvadora pela qual Babilónia, seu culto religioso e seus seguidores são medidos no tribunal do céu. Tanto Sião como Babilónia são nomes que estão enraizados profundamente na história da salvação de Israel. Representam os arquiinimigos religiosos envoltos em um combate mortal (Jer. 50; 51; Dan. l ).

O Antecedente Veterotestamentário de Sião

Nas profecias de Israel, "Sião" é o símbolo da cidade de Deus, o lugar da presença e proteção de Deus, especialmente para os tempos messiânicos (Isa. 40-66; Zac. 1-9). O ponto em questão não é um lugar "santo" geográfico, mas sim a presença de Deus entre seu fiel povo do pacto. Sião foi o símbolo de bênção e libertação (ver Isa. 37). Esta teologia de Sião foi tornada proeminente por Isaías em seu conflito com um sacerdócio e um reinado corrompido que reclamavam o amparo de Deus como pertencendo incondicionalmente a Sião e Jerusalém literal (Isa. 28-31).

Para Isaías, "Sião" representou um povo espiritual: os que procuram o Senhor e têm a lei de Deus em seus corações (Isa. 51:1, 7). Deus disse a essa Sião: "Tu és o meu povo" (v. 16). Isaías empregou o casamento como um símbolo da fidelidade de Deus para com Sião, apesar de havê-la abandonado temporalmente "por um breve momento" quando se comportou mais como uma "meretriz" em suas relações com outras nações (31:1-3). Este significado dual de Sião foi expresso por Isaías nestas palavras:
"Porque o teu Criador é o teu marido; o SENHOR dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; ele é chamado o Deus de toda a terra" (Isa. 54:5).
"Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela, que estava cheia de justiça! Nela, habitava a retidão, mas, agora, homicidas" (Isa. 1:21).
Esta dupla caracterização do Sião tanto como esposa fiel e como meretriz, em momentos diferentes, forma o antecedente teológico para compreender as duas mulheres simbólicas no Apocalipse de João. O Apocalipse descreve a igreja fiel como uma esposa radiante (Apoc. 12:1), e a igreja apóstata como a grande meretriz: "Babilónia" (17:1-5).

Quais São os 144.000?

Na perspectiva profética de Joel, o povo remanescente o constitui os que estão cheios com o Espírito de Deus (Joel 2:28) e adoram ao Senhor (2:32). A criação deste povo do novo pacto só pode ocorrer depois que o Messias receba a plenitude de sua unção (Isa. 11:1, 2; 61:1-6; ver Mat. 3:16, 17). A igreja apostólica recebeu este batismo do Espírito Santo no dia de Pentecostes, conforme consta em Atos 2. Mas a perspectiva de Joel 2:28-32 evidentemente avança para adiante, ao tempo do fim, quando se efetue a separação final dos fiéis no monte Sião:
"E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como o Senhor tem dito, e nos restantes que o Senhor chamar" (Joel 2:32).
O Apocalipse descreveu a era da primeira igreja nos capítulos 2 e 3 nas cartas de Cristo, mas os santos do tempo do fim estão representados em Apocalipse 7 como os 144.000 verdadeiros "israelitas" de todas as tribos (12 x 12.000). Esta é linguagem em clave do pacto de redenção de Deus. Seu "selamento" como "servos" de Deus por parte dos anjos os assinala como os que suportaram a prova do anticristo ao rechaçar sua "marca". Entretanto, são vitoriosos só porque confiaram "no sangue do Cordeiro" (Apoc. 7:14). Seus caracteres estão centrados em Cristo e são semelhantes a Cristo. Estão em um contraste direto com os que têm o número da besta, o 666, "um número misterioso que significa paródia e imperfeição".3

Protótipos dos 144.000 no Antigo Testamento

Dois protótipos no Antigo Testamento iluminam nossa compreensão dos 144.000. Pelo profeta Ezequiel sabemos a verdade tantas vezes passada por alto, que só o povo do pacto, o povo de Deus que é selado, permanecerá protegido no dia do juízo. Os que estejam sem o selo de Deus estão marcados para a condenação (ver Ezeq. 9:5, 6). Na última análise de Deus não haverá povo "indeciso". Apocalipse 14 mostra que está chegando o tempo quando toda a terra será levada à "maturação" ou decisão, seja para o bem ou para o mal, e depois do anjo anunciará: "A colheita da terra está amadurecida" (Apoc. 14:15). O catalisador desta maturação coletiva forma o ponto culminante de Apocalipse 14: as mensagens dos três anjos dos versículos 6-12, que se tratam nos capítulos seguintes.

Outra conexão vital entre os 144.000 em Apocalipse 14 e a profecia de Israel é a predição do Sofonías. Entre os anos 630-625 a.C., Sofonias proclamou os juízos de Deus sobre Judá e Jerusalém devido a seus compromissos com a adoração de Baal (Sof. 1:4-6). Anunciou a iminência do juízo de Deus, o dia do Senhor (vs. 7, 14), mas também incluiu a esperança surpreendente de que um remanescente fiel permaneceria leal a Deus. Seriam protegidos no "dia da ira do Senhor" (2:3, 7, NBE). Chamou-os "os humildes da terra" (v. 3), os que adoram a Deus com lábios puros e invocam o nome do Jeová para servi-lo em seu santo monte (3:9, 11). Sofonias descreve os adoradores verdadeiros com estas palavras:
"O remanescente de Israel não cometerá iniquidade, nem proferirá mentira, e na sua boca não se achará língua enganosa; porque serão apascentados, deitar-se-ão, e não haverá quem os espante" (Sof. 3:13).
O remanescente de Sofonías 3:13 e os 144.000 do Apocalipse são idênticos: "E não se achou mentira na sua boca; não têm mácula" (Apoc. 14:5). Para entender adequadamente esta caracterização dos 144.000 devemos primeiro esquadrinhar seu significado em Sofonías3. Este profeta do Antigo Testamento não aplica a "irrepreensibilidade" e a "perfeição" de Israel de uma maneira abstrata, mas sim as aplica à sua adoração do Senhor por meio da obediência à lei do pacto que está livre das mentiras do culto aos ídolos, milagres falsos e profecia falsa (ver também Deut. 18:9-13).

Paulo também caracterizou a apostasia do homem de iniquidade como "mentira" (2 Tes. 2:11). Em Apocalipse 14 se contrasta intencionalmente os 144.000 com os adoradores da besta e seu culto religioso. Esta interpretação corresponde com a outra descrição de João: "Estes são os que não estão contaminados com mulheres, porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá" (Apoc. 14:4). Ambas as orações gramaticais formam uma unidade e se explicam por si mesmas. Os 144.000 simbólicos (tanto homens como mulheres) não seguem à "mulher" caída ou às comunidades de adoração apóstata, chamada mais tarde Babilónia ou "mãe das meretrizes" (Apoc. 17:5). Seguem exclusivamente o Cordeiro de Deus.
O termo "virgem" era o título hebraico para Sião e Jerusalém em sua relação do pacto com Deus (2 Reis 19:21; Isa. 37:22; Jer. 14:17; 18:13; 31:4; Lam. 1:15; 2:13; Amós 5:2).

Os termos "adultério" e "cometer adultério ou fornicação" usam-se tanto no Antigo Testamento como no Apocalipse como símbolos de idolatria ou de culto falso (ver Êxo. 34:15; Juí. 2:17; 1 Crôn. 5:25; Apoc. 14:8; 17:2, 4;18:3, 9; 19:2). O símbolo "virgem" [parthénos] em Apocalipse 14:4 está em contraste com o termo "meretriz" [porné], e por conseguinte está de igual maneira determinado religiosamente.4 J. Massyngberde Ford oferece este útil comentário sobre os 144.000:
"À luz do significado metafórico do termo virgem, parece que Apocalipse 14:4 se refere aos anciões fiéis de Jerusalém ou a todos quão fiéis não se poluíram com a idolatria, a sensualidade (gr. thumós) da prostituição de Babilónia como no v. 8. O não estar poluídos com mulheres pode olhar atrás ao monstro feminino do capítulo 13, mas muito mais provavelmente olhe para frente à meretriz em Apocalipse 17 e 18".5

Não há justificação para interpretar literalmente um símbolo apocalíptico isolado e caracterizar os 144.000 como celibatários. O apóstolo Paulo já tinha usado o termo "virgem" [parthénos] de uma maneira simbólica para a igreja apostólica que pertencia a "um marido, a Cristo", quando escreveu: "Para lhes apresentar como uma virgem pura a Cristo" (2 Cor. 11:2). Para Paulo, a igreja desempenhava o papel de ser a noiva e esposa do Senhor ressuscitado (ver Ef. 5:31, 32; também Apoc. 19:7).

O Apocalipse mostra os 144.000 como saindo de seu conflito final com o anticristo, no que demonstraram sua lealdade suprema a Cristo. Reconhecem só a Cristo, como ovelhas que seguem a seu pastor no qual confiam (João 10:4; Apoc. 7:17). Não seguem o poder da besta. Em sua luta final com Deus recebem uma experiência mais profunda da intimidade com Cristo, a que expressam em um "cântico novo" que cantam diante do trono de Deus. "E ninguém pôde aprender o cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra" (Apoc. 14:3).

O "cântico novo" em Apocalipse 14 nos recorda do "novo cântico" que os 24 anciões cantam diante de Deus em Apocalipse 5:9 e 10. Louvam ao Cordeiro por sua morte como sacrifício por meio da qual "redimiu para Deus, de toda linhagem e língua e povo e nação". Este louvor de Cristo como o Cordeiro redentor de Deus será sem dúvida alguma o tema do cântico dos 144.000 depois que tenham experimentado uma libertação maior do que a que Israel experimentou sob Moisés (ver Êxo. 15). Então, podemos identificar seu novo cântico com "o cântico de Moisés, e o cântico do Cordeiro" de Apocalipse 15 que celebra sua vitória sobre a besta, sua imagem e sobre o número de seu nome:
"E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor, Deus Todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos santos! Quem te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o teu nome? Porque só tu és santo; por isso, todas as nações virão e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos" (Apoc. 15:3, 4).
João descreve ademais os 144.000 de outra maneira simbólica: "Estes foram redimidos de entre os homens [e oferecidos] como primícias [aparjé] para Deus e para o Cordeiro" (Apoc. 14:4). A lei agrícola de Israel exigia que os primeiros frutos da colheita se dedicassem ao Senhor em seu templo (Lev. 23:9-14; Êxo. 23:19). Estas primícias eram também por definição as primeiras em qualidade, "o mais escolhido" da colheita (Núm. 18:12, 13; Ezeq. 44:30). Jeremias tinha chamado ao Israel uma "noiva" santa, "primícias de seus novos frutos" (Jer. 2:3). Assim considerava Deus o Israel fiel: como as primícias de sua colheita do mundo. De uma maneira similar podemos ver os 144.000 israelitas espirituais contados como as primícias da colheita da humanidade no fim da era da história. A qualidade de sua devoção ou santidade se manifesta em seu constante seguir a Cristo durante a prova final de fé (ver Apoc. 14:4, 5). Estão "com" Jesus (Apoc. 14:1; 17:14). Paulo tinha chamado a Cristo "as primícias dos que dormiram" (1 Cor. 15:20, 23), indicando que a ressurreição de Cristo é uma garantia da ressurreição dos crentes.

Como os últimos companheiros do Cordeiro na era da igreja, os 144.000 israelitas espirituais estão selados para a eternidade (Apoc. 7:1-4). São os Enoques do tempo do fim porque também "caminham com Deus" e serão "trasladados" sem experimentar a morte (Gén. 5:24; Heb. 11:5). São os Elias do tempo do fim porque combatem corajosamente contra os poderosos baalins do tempo do fim, e serão "tomados" por carros de fogo de salvação e transladados à glória (2 Reis 2:10, 11; Apoc. 19:14), o que dá a entender que os 144.000, ao ser selados como as primícias do tempo do fim, são "comprados dentre os da terra" como o começo da colheita do mundo descrita em Apocalipse 14:14-16.6

A ordem dos acontecimentos em Apocalipse 13 e 14 corresponde com a de Mateus 24: primeiro a abominação desoladora em Jerusalém, depois a aflição dos santos, seguido por seu resgate por meio de Cristo e seus anjos. É aqui onde podemos fazer a pergunta pertinente: O que é o que produz estes 144.000 israelitas verdadeiros? Como aparecem no cenário do tempo do fim?

A primeira resposta está na visão de Apocalipse 10, onde João viu "descer do céu outro anjo forte" comissionado para entregar uma mensagem especial do tempo do fim ao mundo durante o período da sexta trombeta (ver o cap. XVIII desta obra). É esta mensagem do tempo do fim de Apocalipse 10 que se desenvolve ulteriormente nas três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12.



Hans K. LaRondelle

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