Por Ray Summers
Quando se abriu o sexto selo, João viu um grande terremoto acompanhado de todos os seus horrores. O sol se escureceu; a lua ficou em sangue; as estrelas caíram como figos derrubados por forte vento; os céus se enrolaram como um rolo de papel; as montanhas e ilhas desapareceram.
Gente de todas as classes e condições sociais escondeu-se nas cavernas e rochas; e clamaram às montanhas que caíssem sobre eles e assim os escondessem do rosto dAquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro, "porque" diziam — "eis que é vindo o grande dia da ira dEles, e quem poderá subsistir?" A curta agonia de ser esmagado pela morte era preferível a ser arrastado à presença dum Deus irado.
Apocalipse 6.9-1112 - Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue,13 - as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes,14 - e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar.15 - Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes16 - e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro,17 - porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?
Há duas interpretações principais deste simbolismo.
1ª Interpretação: um julgamento temporal
Um grupo (Dana, Pieters, American Commentary, Charles, Hengstenberg, in loco) acha que aqui não está representado o juízo final, mas só um julgamento temporal por meio de calamidades naturais. Como caso representativo de calamidade natural, empregou-se o terremoto. Eram frequentes na Ásia Menor, e o povo compreenderia bem.
A combinação de terremoto com a erupção vulcânica destruíra Herculano e Pompeia pelo ano 79 de nossa era. Sardo e Filadélfia também quase que foram totalmente destruídas por um terremoto, certa vez. Essas calamidades naturais retratam de modo mui pitoresco a visitação da ira divina, do juízo de Deus sobre quantos estavam oprimindo o seu povo.
Aqueles que defendem este ponto de vista observam, então, o fato evidente de que o juízo final só vem descrito em Apocalipse 20:11-15. Acham que aqui ainda não se trata do juízo final, e dão as razões seguintes:
Primeira — Esta interpretação [a que crê que o juízo final é narrado no capítulo 6*] ignora o uso que desta ideia se faz no Velho Testamento. É ela empregada em relação aos negócios temporais ou seculares da nação em Joel 2:10, Jeremias 4:23,24, Isaías 13:9,10.
Mas não devemos esquecer, como parece que tais intérpretes fizeram, que uma das principais feições do Apocalipse é o emprego da linguagem do Velho Testamento com significados neotestamentários; este fato enfraquece esta objeção.
Segunda — Dando-se que aqui se trata do juízo final, esquecem-se de que é uma visão que foi dada por meio de símbolos, e tomam tudo literalmente.
Isto é meia verdade. Os futuristas são culpados deste erro, porém há muitos outros que sustentam que aqui está simbolizado o juízo final, mas não tomam literalmente o texto.
Terceira — A interpretação que dá este trecho como o do juízo final coloca este juízo em lugar errado no esquema dos eventos.
Será verdadeira tal interpretação, se estiver errada a teoria da recapitulação. Mas, se estas visões são descrições das mesmas coisas, cada uma se completando a si mesma, porém crescendo de intensidade, então se terá posto o juízo final no lugar certo.
2ª Interpretação: um símbolo do juízo final
Outro grupo de exegetas (Richardson, Moffatt, Kuyper, in loco) acha que isto tudo é símbolo do juízo final. Apega-se à teoria da recapitulação, acima referida, e acha que esta é a sequencia natural.
Não admite um cumprimento literal destas coisas. Acha que os acontecimentos aqui referidos eram material tirado de coisas familiares aos cristãos daqueles dias para mostrar a destruição completa e final dos inimigos da Causa de Cristo.
Os defensores desta teoria sublinham, então, esta declaração: "Porque o grande dia da ira deles é chegado; e quem poderá subsistir?" como uma indicação de que este é o último julgamento. Pieters (Pieters, op. cit., p. 126) e Charles (Charles, The Revelation of St. John. Vol. I, The International Critical Commentary, p. 183. Veja-se também Swete, op. cit., p. 93) respondem a isto com uma declaração que parece ser verdadeira, afirmando que este era o modo de ver e de sentir daqueles pecadores em terror e pânico, e não o de João. Eles, aterrados, pensaram que tinha chegado o fim de tudo; João não interpreta o que escreveu.
Há bons argumentos de parte a parte nesta questão, de modo que difícil se torna acolher uma e rejeitar a outra. Pessoalmente simpatizo com aqueles que acham que tais visões se completam cada uma por si, cobrindo todo o campo de ação. Portanto, aceitaria a ideia de que aqui está simbolizado o juízo final, e assim agiria de modo defensável.
Sinto-me fortemente inclinado, porém, a agir inconsistentemente, por sentir que aqui não está representado o juízo final, e, sim, uma calamidade natural como instrumento de justiça aplicada aos negócios temporais da humanidade. Moffatt (Moffatt. op. cit., p. 394) encontra um modo de escapar, ao sugerir que aqui está simbolizado o início do juízo final, mas João introduz um entre-acte que exclui o juízo final e faz com que se dê aos habitantes da Ásia Menor apenas uma prelibação da destruição que se aproxima.
Seja qual for a interpretação, esta parte do drama simboliza o poder destruidor de Deus contra aqueles que rejeitam a ele e ao seu plano de salvação. Quando estas forças forem postas em ação, rugindo e refervendo — "Quem poderá subsistir?" Esta pergunta vem respondida no capítulo 7.
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