Ron Rhodes
No início dos anos 80, trabalhei em um
serviço de correspondência cristão, juntamente com mais algumas dezenas
de estudantes do Seminário de Dallas. Nós entregávamos certos tipos de
documentos na área de Dallas e de Fort Worth.
Para esse serviço, foi necessário aprender a utilizar um guia de
ruas. Com o auxílio do índice, no final do guia, ficava fácil e rápido
encontrar a página certa e até o segmento da página onde se podia
identificar a rua procurada. Constantemente éramos alertados: “Enquanto
utilizássemos corretamente o guia de ruas não haveria erros para
encontrar os endereços pretendidos”. Toda vez que ocorria um engano na
busca de algum endereço, a razão era a de não ter procurado a orientação
no guia com a devida atenção.
Com a Bíblia ocorre algo semelhante. Enquanto a lermos com a devida
atenção, isto é, enquanto fizermos a interpretação adequada dos seus
ensinamentos, não corremos o risco de nos perdermos em suas páginas ou
de cometermos enganos. Então compreenderemos a Bíblia da maneira como
Deus pretendia que fosse.
Gostaria de falar brevemente sobre o modo correto de ler a Bíblia. Se
o fizermos dessa maneira, teremos condições de entender as revelações
que Deus fez, através da Profecia Bíblica, também de modo correto –
principalmente no que diz respeito à cronologia profética. Por outro
lado, teremos melhores condições de verificar o quanto as interpretações
proféticas da Teologia da Substituição[a] e do Preterismo[b] são
falhas.
[a] A Teologia da Substituição afirma basicamente que a Igreja substituiu Israel no plano de Deus e que as promessas feitas para Israel serão cumpridas pela Igreja.
[b] A palavra “Preterismo” é derivada do termo preter, em Latim e significa “passado”. De acordo com essa perspectiva, as profecias do livro de Apocalipse (principalmente dos capítulos 6-18) e do Sermão do Monte das Oliveiras, proferido por Jesus (Mateus 24-25), já foram cumpridas.
Iniciaremos com a aplicação da interpretação literal nas Escrituras. O
termo “literal”, utilizado na Hermenêutica (a ciência da interpretação
bíblica) tem origem no Latim – sensus literalis – e pretende
descobrir o sentido literal do texto, ao contrário de um sentido não
literal ou alegórico. Trata-se de procurar a compreensão que uma pessoa
com inteligência normal teria ao ler um texto, sem a aplicação de chaves
ou códigos especiais.
A interpretação literal das Escrituras também pode ser definida como o
entendimento dos conceitos com base na vida diária normal. As palavras
recebem o mesmo significado que possuem numa comunicação usual. Trata-se
de interpretar uma passagem bíblica da maneira normal ou óbvia. No
entanto, é necessário mencionar algumas limitações.
O método literal não exclui expressões idiomáticas ou figuras de retórica
Quando a Bíblia menciona os olhos, os braços ou as asas de Deus (Sl
34.15; Is 51.9; Sl 91.4), isso não deveria ser interpretado
literalmente. Deus não possui características físicas – Ele é Espírito
(Jo 4.24). Da mesma maneira, é impossível que Ele seja literalmente uma
rocha material (Sl 42.9). De qualquer modo, nós não saberemos, nesse
aspecto literal, aquilo que Deus não é, enquanto não tivermos conhecimento daquilo que Ele literalmente é.
Por exemplo, se não fosse literalmente verdade que Deus é Espírito e
Eterno, não poderíamos afirmar que certas referências feitas a Deus em
outras passagens da Bíblia não podem interpretadas literalmente, como, por exemplo, uma forma material ou finita. A afirmação de Jesus, em João 15.1: “Eu sou a videira verdadeira...”
não é considerada como uma verdade física pelo método de interpretação
literal. Muito antes, ela é entendida como uma figura de retórica – ela
significa que os crentes recebem sua vida espiritual de Jesus, nossa
“videira espiritual”. É importante que tenhamos a compreensão disso,
pois a literatura profética e apocalíptica, como Daniel e o livro do
Apocalipse, fazem uso frequente de expressões idiomáticas e de figuras
retóricas.
Às vezes não é fácil descobrir se uma passagem deve ser compreendida
literalmente, ou não. No entanto, existem algumas diretrizes que podem
nos auxiliar nesse sentido. Resumindo: um texto pode ser interpretado
figurativamente...
- quando ele obviamente tem o sentido figurado, por exemplo, quando Jesus afirmou que Ele é a porta (Jo 10.9);
- quando o próprio texto indica um sentido figurativo, por exemplo, quando Paulo mostra o sentido alegórico de um texto (Gl 4.24);
- quando uma interpretação literal for contrária a outras verdades descritas na Bíblia, ou mesmo fora dela, por exemplo, quando ela fala dos “quatro cantos da terra” (Ap 7.1).
Trazendo tudo a um denominador comum: “Quando o sentido literal faz
sentido, não procure por outro sentido, a não ser que o resultado seja
um absurdo”.
O método literal não exclui o emprego de símbolos
A Bíblia está repleta de símbolos. No entanto, cada símbolo consta figurativamente em relação a algo literal.
Por exemplo, no livro do Apocalipse aparecem muitos símbolos que
representam literalmente coisas concretas. Jesus explicou que as sete
estrelas em Sua mão direita representam “os anjos [mensageiros] das sete igrejas” (Ap 1.20) e
que os sete candeeiros representam as sete igrejas (Ap 1.20). As taças
de incenso representam as orações dos santos (Ap 5.8) e as “águas” simbolizam “povos, multidões, nações e línguas” (Ap 17.1,15).
Assim, cada símbolo consta em relação a algo que realmente existe.
Muitas vezes há indicações no texto que nos conduzem à intepretação
literal oculta nos símbolos – tanto no contexto imediato ou mesmo
distante em outra passagem da Escritura.
O método literal não exclui a aplicação de parábolas
Jesus apresentou parábolas que não tinham interpretação literal. No entanto, cada parábola expressa algum objeto literalmente.
Jesus pretendia que as parábolas fossem entendidas pelas pessoas que
estivessem dispostas para isso. Ele até explicou duas delas aos Seus
discípulos – a Parábola do Semeador (Mt 13.3-9) e a Parábola do Trigo e
do Joio (Mt 13.24-30). O Senhor o fez, não somente para dirimir qualquer
dúvida sobre a interpretação correta, como também para mostrar aos
crentes como as outras parábolas devem ser interpretadas. Jesus não
interpretou as demais parábolas, certamente indicando que Ele
considerava os crentes capacitados a seguir o Seu método e a compreender
o significado literal das mesmas.
Seis razões para empregar o método literal
Existem pelo menos seis bons motivos que favorecem a abordagem literal das Escrituras (incluindo as profecias).
- Trata-se do modo normal como cada idioma é entendido.
- A maior parte da Bíblia adquire um sentido quando ela é interpretada literalmente.
- Esse método permite que haja um sentido secundário (alegórico) quando o contexto assim requer.
- Todos os significados secundários (alegóricos), no entanto, são dependentes do significado literal. Não seria possível identificar o que textualmente se refere a Deus enquanto não soubermos o que é literalmente verdade.
- Trata-se do único controle sensato e seguro para nossas suposições subjetivas.
- É a única abordagem que coincide com a essência da inspiração (do conceito de que as palavras das Escrituras foram geradas pelo “sopro de Deus”).
A confirmação bíblica para o método literal
O próprio texto bíblico fornece numerosas comprovações para o método
literal de interpretação. Assim, textos bíblicos mais recentes permitem a
compreensão literal de textos mais antigos, como, por exemplo, o relato
da Criação, em Gênesis 1-2 (ver Êx 20.10-11). O mesmo ocorre com o
relato da criação de Adão e Eva (Mt 19.4-6; 1Tm 2.13); o pecado de Adão
e, em consequência, a sua morte (Rm 5.12,14); Noé e o Dilúvio (Mt 24.38)
e os relatos sobre Jonas (Mt 12.39-41), Moisés (1Co 10.2-4,11) além dos
vários personagens históricos.
Além disso, em Sua primeira vinda, Jesus cumpriu mais de cem profecias. Assim, por exemplo, havia as promessas de que Ele seria:
- o descendente de uma mulher (Gn 3.15);
- oriundo da linhagem de Sete (Gn 4.25);
- descendente de Sem (Gn 9.26);
- descendente de Abraão (Gn 12.3);
- descendente da tribo de Judá (Gn 49.10);
- o Filho de Davi (Jr 23.5-6);
- nasceria de uma virgem (Is 7.14);
- nasceria em Belém (Mq 5.2);
- anunciado como o Messias (Is 40.3);
- o futuro Rei (Zc 9.9);
- o sacrifício para o perdão dos nossos pecados (Is 53);
- traspassado em Seu lado (Zc 12.10);
- “aniquilado” – morto (Dn 9.24-26), por volta de 33 d.C.;
- ressuscitado dentre os mortos (Sl 2 e 16).
Observe também: Jesus, ao interpretar a profecia literalmente,
indicava de maneira clara que Ele concordava com o método literal de
interpretação do Antigo Testamento (Lc 4.16-21).
Ao vermos a Bíblia confirmar a presença de parábolas (Mt 13.3) ou de
um significado alegórico (Gl 4.24), ela demonstra que o normal é o
significado literal. Além disso, quando Jesus explicava uma parábola,
Ele deixava claro que uma parábola traz em si um significado literal (Mt
13.18-23).
Quando Jesus repreendeu aqueles que não consideravam a ressurreição
de maneira literal, Ele indicava que a interpretação literal do Antigo
Testamento era a correta (Mt 22.29-32). A maneira como Jesus aplicava as
Escrituras é uma das provas mais convincentes de que a Bíblia deve ser
interpretada literalmente.
O que isso significa é óbvio. Uma cronologia da Profecia, que exige
dados exatos, precisa se basear na interpretação literal das profecias
bíblicas, individualmente.
FONTE:
(Ron Rhodes — Chamada.com.br)
Extraído de A Cronologia do Fim dos Tempos
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