12 de out. de 2016

As Bestas do Apocalipse

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“...não há autoridade que não venha de Deus (...) ...Ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada. Ela é ministro de Deus, agente da ira para castigar o que pratica o mal.” PAULO AOS ROMANOS CAP.13 VERSOS 1b, 4b.

Muita coisa já foi dita e escrita acerca das bestas apresentadas no Apocalipse. Infelizmente, criou-se todo um folclore acerca desse assunto. Basta que surja algum novo personagem proeminente no cenário político ou religioso mundial, para que seja considerado um forte candidato ao posto de Besta Apocalíptica. Homens como Hitler, Mussolini, Kennedy, Reagan, e até o Papa são alguns dos que já concorreram a esse indesejável posto. Vamos procurar, à luz das Escrituras, identificar essas bestas, e saber qual o papel que elas desempenharam na execução dos propósitos de Deus.


A Besta que emerge do Mar
A primeira Besta vista por João surge do mar. Como já vimos antes, o mar representa os gentios, como podemos ler em Ap.17:15, onde se diz: “As águas que viste (...) são povos, multidões, nações e línguas.” O termo “besta” vem do grego “therion”, e significa um grande e feroz animal que, dentro do simbolismo bíblico, representa um poderoso reino. Daniel fala de quatro bestas, que representariam os quatro grandes impérios que dominariam o mundo. Já em Apocalipse, encontramos apenas duas bestas, a que emerge do mar, e a que sobre da terra. A primeira besta do Apocalipse equivale à quarta besta do Livro de Daniel, isto é, o poderoso Império Romano. É interessante que, de acordo com as descrições de João, esta besta possui características inerentes a cada uma das quatro bestas do Livro de Daniel. [1]
1. Dez Chifres - Como a 4a. Besta de Dn.7:7 - Representam os reis das dez províncias romanas, responsáveis por manter a união da Roma Imperial.
2. Semelhante ao Leopardo - Como a 3a. Besta de Dn.7:6 - Representa a velocidade com que o reino grego alcançou suas conquistas.
3. Pés como de urso - Como a 2a. Besta em Dn.7:5 - Representa a força, estabilidade e consolidação, características encontradas no Império Persa.
4. Boca como de leão - Como a 1a. Besta em Dn.7:4 - Representa a ferocidade ameaçadora da monarquia babilônica.
 
Como se não bastasse reunir as principais características dos impérios que o antecederam, João afirma que “o dragão deu-lhe o seu poder, o seu trono e grande autoridade” (Ap.13:2b). Foi no tempo de Nero que Roma insurgiu-se contra a Igreja pela primeira vez. É interessante frisar que durante um tempo de seu reinado, Nero parecia um homem sensato, coerente, seguidor fiel dos ensinos de Sêneca. Repentinamente, Nero ficou irreconhecível, transformando-se num homem cruel, capaz de mandar executar a sua própria mãe. Era como se ele houvesse sido possuído pelo próprio Satanás. No documento cristão primitivo conhecido como Ascensão de Isaías, lemos que Belial[2] “descerá do seu firmamento sob a forma de um homem, de um rei ímpio, assassino de sua própria mãe”. [3] Roma agora, seria a agência oficial de Satanás em sua pretensão de dominar a terra, ao mesmo tempo que seria o instrumento da Justiça Divina sobre o povo rebelde.

João vê “uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas a sua chaga mortal foi curada”(v.3a). A besta tinha 7 cabeças, que segundo a explicação dada a João, seriam sete reis, sendo que, cinco já haviam caído, um existia, e outro ainda não era chegado. Confira a relação dos sete, e identifique o imperador em questão.
1- Augusto
2- Tibério (14-37 d.C.)
3- Calígula (37-41)
4- Cláudio (41-54)
5- Nero (54-68)
6- Vespasiano (69-79)
7- Tito (79-81)

 
A “cabeça golpeada de morte”, certamente é uma alusão a Nero, que por não suportar a pressão sofrida por parte do Senado, que o considerava inimigo público, preferiu suicidar-se, ferindo-se na garganta com uma espada. Com a morte de Nero, o Império Romano ficou em frangalhos. Muitos cristãos que sobreviveram à perseguição neroniana, e que agora eram oficialmente proscritos, devem ter entendido os horrores que sobrevieram a Roma como um ato de juízo divino. Tudo indicava que Roma estava com os seus dias contados. Eclodiam revoltadas em várias províncias. As tropas do Reno tentaram estabelecer seu comandante, Vergínio Rufo, como o novo imperador. Foi aí que descobriu-se que “um imperador podia ser feito fora de Roma”[4] A Guarda Pretoriana posicionou-se a favor de Galba, que ironicamente, acabou assassinado pelos próprios pretorianos que o exaltaram. Oto, que era governador na Espanha, cortejando as simpatias das tropas locais, foi declarado imperador. Mas as legiões do Reno nomearam Vitélio, e marcharam sobre a Itália. Em meio a este tumulto, as províncias orientais proclamaram Vespasiano como o legítimo imperador de Roma. Antes que se findasse o ano de 69, as tropas de Vitélio foram derrotadas, e Vespasiano tornou-se o único imperador de Roma. Enfim, o conturbado Império, como a Fênix, parecia renascer das cinzas. Por isso, Vespasiano é considerado o sexto imperador, vindo logo após Nero. A Besta se recuperara da chaga mortal que a atingira na cabeça. Por isso, “toda a terra se maravilhou, seguindo a besta”(v.3b). Roma voltara a ser o que era antes.
Vespasiano deu origem a uma segunda dinastia em Roma, a Flaviana ( a primeira começou com Augusto César e terminou com Nero ). Ele foi sucedido por Tito, o mesmo que comandou a destruição de Jerusalém, que por sua vez foi sucedido por Domiciano, seu irmão.
Ainda sobre o conturbado hiato entre as duas dinastias, representadas por Nero e Vespasiano, centenas de anos antes, Daniel anteviu tais acontecimentos. Leia atentamente o seu relato:

"Então tive o desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era diferente de todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram de ferro, e as unhas de bronze - animal que devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobrava. Também tive desejo de conhecer a verdade a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça, e do outro que subia, diante do qual caíram três, isto é, daquele chifre que tinha olhos, e uma boca que falava com vanglória, e parecia ser mais robusto do que os seus companheiros (...) Disse-me ele: O quarto animal será o quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços. Quanto aos dez chifres, daquele mesmo reino se levantarão dez reis. Depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá três reis.” DANIEL 7:19-20, 23-24.

Para que Vespasiano se firmasse como o único Imperador de Roma, três outros precisariam ser abatidos, Galba, Oto e Vitélio. Vespasiano trouxe de volta a harmonia ao Império. As províncias se unificaram novamente, e a Pax Romana revigorou-se.
Tanto Daniel quanto João dizem que a Besta recebeu “uma boca para proferir arrogâncias e blasfêmias, e deu-se-lhe autoridade para continuar por quarenta e dois meses. E abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo e dos que habitam no céu. Também foi-lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los. E deu-se-lhe poder sobre toda tribo, língua e nação”(Ap.13:5a,6-7 compare com Dn.7:8b, 20-22,25). [5]

A perseguição aos cristãos iniciada por Nero, só foi retomada por Domiciano, o segundo filho de Vespasiano. Cada um dos atributos apresentados acima são inerentes a ele. Mais adiante, quando estudarmos o capítulo 17 de Apocalipse, vamos investigar mais a miúde o reinado desse cruel imperador, que entre muitas coisas, insistia com a idéia absurda de que era “deus”, e por isso, deveria ser adorado. Aliás, foi esse o estopim que deflagrou uma perseguição sem precedentes à Igreja Cristã. João nos informa em seu relato, que “todos os que habitam sobre a terra a adorarão, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém deve ir para o cativeiro, para o cativeiro irá. Se alguém deve ser morto à espada, necessário é que à espada seja morto. Nisto repousa a perseverança e a fidelidade dos santos”(vs.8-10). A partir daí, os algozes já não seriam os judeus, propriamente, mas a Roma Imperial.

 
A Besta que subiu da Terra

Para identificarmos a segunda besta, precisamos identificar sua origem. Enquanto a primeira emerge do mar (nações gentílicas), a segunda sobe da terra, que é uma alusão clara a Israel. Trata-se de uma estrutura de poder originária da nação judaica. Esta besta se apresenta com dois chifres “semelhantes aos de um cordeiro”, o que denota uma estrutura de apelo religioso. Se os dez chifres da primeira besta representam dez reis, é plausível inferir que os dois chifres da segunda besta representem duas autoridades religiosas, ou mais provavelmente, duas facções religiosas. Se for assim, podemos identificá-los com os dois principais e mais influentes grupos religiosos da época: os escribas[6] e os fariseus[7].
João diz que aquela besta se apresentava como um cordeiro, “mas falava como dragão”(v.11). Isso se encaixa bem na descrição que Jesus deu de alguns líderes religiosos judeus de Sua época. Jesus, o verdadeiro Cordeiro de Deus, afirmou que eles não entendiam a Sua linguagem. “Vós pertenceis ao vosso pai, o diabo”, declarou Ele, “e quereis executar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, pois não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, pois é mentiroso e pai da mentira” (Jo.8:44). Por trás da aparência de cordeiro, havia uma natureza diabólica. Pele de cordeiro, voz de dragão! Foi Jesus quem os denunciou, dizendo: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de intemperança (...) Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos, e de toda imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade (...) Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mt.23:25,27-28,33). Jesus chega a chamá-los de “filhos do inferno”(Mt.23:15).
Está mais do que claro que a segunda besta nada mais é do que o judaísmo apóstata, com os seus dois principais partidos religiosos, os escribas e os fariseus.
Sua hipocrisia era tamanha, que eles se diziam defensores dos interesses romanos. Por isso é dito que a segunda besta “exercia toda a autoridade da primeira besta na sua presença, e fazia que a terra e os que nela habitavam adorassem a primeira besta, cuja chaga mortal fora curada”(13:12). Exemplos disso podem ser encontrados em diversos episódios, onde os judeus afirmavam total lealdade ao poder imperial. Quando Pilatos tentava soltar Jesus, os judeus em uníssono gritavam: “Se soltares a este, não és amigo de César. Qualquer que se faz rei se opõe a César” (Jo.19:12b). No dia da preparação da Páscoa, Pilatos tentou pela última vez dissuadir os judeus. Trazendo Jesus perante eles, disse: “Eis o vosso Rei. Mas eles gritaram: Fora! Fora! Crucifica-o! Perguntou-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César. Finalmente Pilatos o entregou para ser crucificado” (vs.14b-16). Quão caro lhes custou tal hipocrisia! [8]
Uma interpretação alternativa plausível seria identificar os dois chifres daquela besta como sendo “os falsos cristos” e os “falsos profetas” (Mt.24:24). A diferença entre eles é que, geralmente, os falsos cristos se opunham ao domínio romano, prometendo liberdade do jugo imperial aos judeus, apresentando-se assim como os verdadeiros “messias” (2 Pe.2:19). Pedro os chamou de “falsos mestres” (2 Pe.2:1). Já os “falsos profetas”, geralmente, eram aliados de Roma, e tinham como pretensão promover o culto ao imperador. Não podemos ignorar que alguns poderiam receber qualquer uma dessas alcunhas.
Não importa se os dois chifres representavam os escribas e fariseus, ou os falsos cristos e falsos profetas, ou os dois grupos ao mesmo tempo. O fato é que a segunda besta nada mais é do que a representação do judaísmo apóstata, responsável direto pela crucificação do Senhor Jesus.


[1] Isso comprova o que já dissemos antes, que os quatro anjos que comandam o cerco de Jerusalém (Ap.9:15) representam cada um dos quatro impérios mundiais, e as quatro qualidades de gafanhotos que destroem a figueira improdutiva (Israel). Roma veio dar seqüência à destruição iniciada por Nabucodonosor, como instrumento do juízo divino sobre o povo que rejeitara o seu Deus. [2] Belial - Um dos nomes pelos quais Satanás é apresentado na Bíblia e na cultura judaica. [3] Ascensão de Isaías 4:2 [4] CHAMPLIN, R.N., Enciclopédia da Bíblia, Teologia e Filosofia, vol.3, pág.291. [5] Embora acreditemos que os 42 meses devem ser interpretados, a priori, como sendo figurativos, é interessante frisar que a perseguição empreendida por Nero aos cristãos teve a duração de exatos 42 meses. [6] Escriba - Um erudito ou autoridade na Lei. Os escribas eram ligados ao partido sacerdotal. Mais tarde, passaram a ser chamados de “rabinos”. Havia escribas sacudeus e fariseus. [7] Fariseus - Partido religioso judaico extremamente legalista, que diferia dos saduceus quanto à crença na imortalidade da alma, na existência dos anjos, e na aceitação de todo cânon judaico (os saduceus só aceitavam o Pentateuco). [8] Confira ainda Atos 17:7, onde os judeus acusaram Paulo e Silas de procederem contra os decretos de César, por dizerem que havia outro rei, Jesus.

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