8 de out. de 2016

Haverá salvação durante a Grande Tribulação? Uma análise de Apocalipse 7.14

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I - Introdução
 
Temos visto um grande desencontro de afirmações envolvendo o versículo bíblico de Ap 7.14, acerca de quem são os salvos em questão e de que “tribulação” eles vêm. Por conta disto tivemos a curiosidade de analisar alguns pontos nas escrituras tendo a princípio como subsídio, algumas obras do original grego.
No primeiro momento, vejamos o texto em questão na versão original e em suas variações na língua portuguesa:
“… Estes são os que vieram de grande tribulação...”(Ed. Revista e Corrigida/ S.B.B. – 1995).

“... São estes os que vêm da grande tribulação...”.(Ed. Revista e Atualizada / S.B.B. – 1994).

“... Estes são os que vieram da grande tribulação...”. (Ed. Corrigida e Fiel / S.B.T. – 1994).

“... disse-me ele: Estes são os que vieram da grande tribulação...”.
(Ed. Cont de Almeida / Ed. Vida – 1999).

“... E ele disse: ‘Estes são os que vieram da grande tribulação’...”.
(N.V.I. / Ed. Vida – 2000).

“... Então ele me disse: Estes são os que atravessaram sãos e salvos a grande perseguição...”. (N.T.L.H. / S.B.B. – 2000).
Como podemos observar nos escritos originais gregos, temos uma formação gramatical (lógica e seqüencial) que em sua transliteração direta para a língua portuguesa, fatalmente incorre em uma incoerência lingüística. Como conseqüência, em algumas versões brasileiras, dada a dificuldade de um ajustamento gramático-lingüístico, houve a utilização de regras gramaticais para proporcionar uma leitura mais coerente e harmoniosa. Vejamos:

As variações apresentadas nas traduções brasileiras (R.C. “... de grande tribulação...” e R.A., C.F., C., N.V.I. “... da grande tribulação...”) em momento algum afirmam mudança de evento, tempo e lugar em decorrência da preposição utilizada. Notemos que na versão R.C., manteve-se a preposição “de”, extinguindo-se os artigos “a”. Já nas versões R.A, C.F., C., N.V.I., utiliza-se a regra gramatical da contração de preposição, onde a preposição “de” em contração com os artigos “a”, fixa-se em “da”(tomando sempre como base o texto grego em sua formação gramatical original). Neste caso, houve uma simples observação da concordância lingüística, fazendo uso da contração de preposição. Já na versão R.C., ocultou-se os artigos, porém sem se fazer à contração de preposição, o que pode provocar uma mudança no entendimento do texto, contexto, evento, tempo e lugar. Podemos até entender essa variação dada às vastas e complexas regras da gramática portuguesa. Quanto à variação na tradução do substantivo thlipsis/thlipsêos por “aflição” (N.T. Interlinear), não há interferência no sentido quanto à identificação do evento relacionado, pois, o substantivo tem esta variação gramatical. Em sua tradução pode ser igualmente entendido por ‘tribulação’, ‘aflição’ e ‘angústia’, conforme nos relata o Dic. Internacional de Teologia do N.T.; o que em momento algum sugere alguma mudança de evento, como veremos adiante.

O dicionário Vine quando analisa o substantivo (thlipsis – “tribulação”) faz uma referência bem proveitosa à passagem de Ap 7.14:
“Em Ap 7.14, a Grande Tribulação’, literalmente, ‘a tribulação, a grande’ (não estar sem o artigo), não é aquele (tempo, período, evento – G. A.) em que todos os santos tomam parte; indica um período dito pelo SENHOR em Mt 24.21,29; Mc 13.19,24, onde é mencionado que o tempo é anterior à sua vinda (para estabelecer o Reino Milenar – G.A.), e um período no qual a nação Judaica, restabelecida à Palestina mediante inacreditável instrumentalidade dos gentios, sofrerá uma explosão de fúria sem precedentes por parte dos poderes anticristãos confederados sob as ordens do homem do pecado (2 Ts 2.10-12; cf. Ap 12.13-17)”
(Dic. Vine, pg. 1037)
Ou seja, a tribulação a que se refere o texto de Ap 7.14 trata-se da “Grande Tribulação”, a da “70ª Semana de Daniel”, e não da cotidiana e corriqueira tribulação a qual todos os crentes fiéis e infiéis em geral precisam passar. Quanto a essa distinção analisaremos adiante, mas, antes vejamos o que o Dr. Stanley Horton, no seu Comentário Bíblico de Apocalipse nos relata a respeito do assunto:

“O ancião responde-lhe que estes são aqueles que vieram da ‘Grande Tribulação’ (literalmente no grego é “a tribulação” – “a grande”- G.A.). Alguns usam o verbo, que está no particípio presente “vindo”, para alegar que parte daquela grande multidão já havia passado pela tribulação nos dias do escritor do Apocalipse. Outros usam ainda este particípio, em sua idéia de continuidade, para referir-se a todos que foram salvos no decorrer da história da igreja. Deste modo, interpretam a frase “grande tribulação” como sendo uma forma hebraistica de dizer “longa tribulação”. Outros ainda lançam mão do mesmo tempo verbal para dizer que as pessoas sairão da “Grande Tribulação”, da abertura do “sétimo selo”. Os proponentes deste ponto de vista, mostram que a visão é sobre os “tempos finais”. Por isso, pegam o artigo definido, aqui usado, para chegar à conclusão de que esta é a “Grande Tribulação” dos últimos dias (Beasley – Murray, 147 / Ver: Ap 3.10 e compare com Dn 12.1 – Ref. corrigida).

Quando analisamos os relatos bíblicos contidos no capítulo sete de Apocalipse, estamos vendo os fatos presentes em plena “Grande Tribulação”, e jamais a ‘tribulação’ da história da igreja. Coerente a mesma linha de raciocínio, temos o Dr. R. N. Champlin, que em seu comentário do Novo Testamento afirma:

“A grande tribulação. É obvio que neste ponto, a referência à ‘tribulação’ é escatológica, e não histórica, visando falar acerca dos grandes dias de tribulação pelos quais, pouco antes do segundo advento de CRISTO, passará o mundo inteiro”. E segue: “Aqui está à resposta aquela indagação. A grande multidão é a companhia inumerável de mártires do período da tribulação” (a escatológica – G.A.). (Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, pg. 484 – 485).

Entre todas as versões analisadas, que neste caso soma-se em número de 13 versões, apenas a versão Revista e Corrigida de Almeida coloca o texto traduzido como “... de grande tribulação...”. Podemos dizer que pelo fato de traduzir por “... de grande tribulação...”, não há qualquer possibilidade do texto reportar-se a outro evento senão a “Grande Tribulação”. Se assim fosse, mudaria todo o contexto do capítulo 7 e de todo o livro do Apocalipse. Neste caso específico, a não observação da regra gramatical em sua tradução, coloca-a em completo isolamento (o que inevitavelmente induz os “desavisados” e “apressados” a interpretarem e mudarem o sentido do texto original, como sendo outro evento, em um outro período, que não a “Grande Tribulação”). Analisamos também três versões católicas, onde todas concordam em suas traduções com a contração de preposição, fixando o texto em “... da grande tribulação...”.

Em seu texto e contexto, o capítulo 7 de Apocalipse encontra-se na seqüência cronológica das narrativas da “Grande Tribulação” (Ap 6-19). Não há como negar. Usar versículos isolados é prejuízo certo na ortodoxia bíblica, finalizando com desvio doutrinário.

A Bíblia de Estudo de Genebra, em sua nota de Ap 7.14, evidencia esta confusão causada por alguns leitores, em achar que estes salvos da “Grande Tribulação”, são a igreja arrebatada.
“Muitos vêem a ‘grande tribulação’ como um período final da perseguição, pouco antes da segunda vinda. Mas tribulações acontecem para os cristãos em toda a era da igreja, de modo que todo o tempo pode ser caracterizado como um tempo de tribulação (2 Ts 1.5-6; 2 Tm 3.1,12).” (Bíblia de Estudo de Genebra, pg. 1535)
Em uma leitura rápida, é quase inevitável a mudança no entendimento provocada pela tradução “... de grande tribulação...”; não só do evento referido, mas também dos envolvidos (os seus participantes). Faz-se então necessária uma análise especifica do termo “Tribulação”, ao longo da Bíblia, para descriminar os seus respectivos participantes.

II – A Tribulação e a Grande Tribulação
O Dicionário Internacional de Teologia do N. T. define o substantivo (thlipsis) como podendo ser igualmente traduzido por “tribulação”, “aflição” e “angústia”. (Dic. Internacional de Teologia do N.T., pg. 1658). Para podermos entender melhor a que tribulação o texto de Apocalipse 7.14 estar se referindo, apesar de que o próprio texto já diz que é da “Grande Tribulação”, precisamos distinguir a diferença entre “Tribulação” e “Grande Tribulação”. Vejamos uma rápida análise do termo “tribulação”.

A Tribulação do SENHOR JESUS
 
No mesmo dicionário referido, mais adiante, a tribulação é colocada como algo inerente, em íntima conexão com o Filho de DEUS.

“A declaração do A.T.: ‘ Muitas são as aflições do justo’ (Sl 34.19), se aplica especialmente ao Verdadeiro Justo (At 3.14-15), sendo, portanto, possível falar das ‘aflições de CRISTO’ (Cl 1.24). Não se trata apenas das aflições que sobraram para a igreja, mas também das aflições que o SENHOR padeceu no seu sofrimento sem igual (Cl 1.20,22), com o qual a igreja, conforme ela bem sabe, deve ser ligada na sua própria aflição. Passagens tais quais 2 Co 1.5, 4.10, nos permite inferir que o conceito de tais aflições era implícito na proclamação do sacrifício de CRISTO.”
(Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, pg. 1659)

Temos em passagens como Mt 26.36-44, Mc 14.32-39, Lc 22.39-45 e Jo 18.1 a revelação da verdadeira aflição passada pelo SENHOR JESUS. “E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão” (Lc 22.44). A agonia, igualmente considerada por “angústia”, “aflição” e “tribulação” (Dic. Aurélio), sofrida por JESUS CRISTO, as portas de seu martírio, é um exemplo claro de que nem mesmo o Filho de DEUS escapou de sofrer o seu momento de “tribulação”.

Primeiramente temos o anúncio do final trágico que estava reservado ao FILHO de DEUS. O Cálice que tomaria, simbolismo do Antigo Testamento, é utilizado para expressar sofrimento e ira Divina. “... Beber o cálice...” é tomar para si uma grande leva de sofrimento e ira, o que fatalmente o conduzi-o ao martírio (veja: Sl 75.8; Is 51.17-22; Jr 25.15; Ez 23.31-34; Mt 26.39-42; Mc 14.36 e Jo 18.11). Em segundo lugar, o Batismo final; “... receber o batismo com que sou batizado”. É o ato que sacramenta a esperança e a mensagem principal do Cristianismo: a eterna ressurreição (Rm 6.3-7). O Mesmo diante de todas as nossas limitações humanas, o que nos impossibilita de entender por completo a grandiosidade das palavras de CRISTO, não podemos aceitar que palavras tão claras e diretas, “... bebereis o cálice que EU bebo e recebereis o batismo com que Sou batizado”., sejam colocadas de lado e negligenciadas no cotidiano de uma igreja que pretende participar do arrebatamento. Querer excluir do verdadeiro Cristianismo as perseguições, os sofrimentos, as adversidades, as lutas, os obstáculos, a dor, o esforço sobre-humano (por Obra e Graça do ESPÍRITO SANTO – Jo 16.7; Rm 8.26), é heresia, é pregar outro evangelho, é enganar o povo e conduzi-los ao inferno.

Diante das adversidades em que vivemos, e poderemos vir a vivenciar, sigamos o exemplo do apóstolo Paulo: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece”. Fp 4.13 

A Tribulação da Igreja

Quando nos voltamos para analisar o termo “tribulação” e a sua aplicação para a igreja, acabamos nos deparando com uma outra realidade vivenciada pelos cristãos. Vemos hoje em dia a fragilidade da grande maioria de seus “ocupantes” quanto ao conhecimento de causa e quanto a colocar-se em posição digna de participar das “aflições de CRISTO”. Digo isto, certo de que para o cristão chegar a este ponto precisa estar em pé (Lc 21.36; 1 Co 10.12), com uma vida santificada, pois, sabemos que de qualquer jeito o cristão não incomoda as trevas. Deixando de ser “luz” e perdendo o “gosto”, o cristão só serve para ser pisado pelo seu próprio semelhante (Mt 5.13-15). Jamais irá incomodar o reino das trevas, como acontecera com Pedro e os demais cristãos (At 5.40-41, cf. At 7.55-57); como sempre fora o ministério de Paulo (2 Co 11.16-33). Não estamos fazendo apologia ao martírio de cristãos, muito menos a submissão a uma vida de violência, mas, certos estamos em afirmar que a igreja de hoje não incomoda mais o mundo como deveria incomodar; não imprime o seu poder de influência como deveria, é só olhar para o seu próprio interior. A igreja, e a grande maioria de seus ocupantes, por mais que não queiram admitir, passaram a sofrer a influência do mundo, dos costumes seculares, etc.; o que tem acarretado na perca de princípios e valores bíblicos. Este é o resultado de “fazer parte” de uma igreja e não “ser” a igreja do CRISTO Ressurreto. Estamos a “anos luz” dos exemplos primitivos, e bem distantes daquela Assembléia de Deus de até princípio dos anos 80, quando ainda incomodava os pecadores pelo seu testemunho. Afinal de contas de quem é a culpa? Acaso seria de uma liderança que em muitos casos encontra-se hibernada na luxúria de seus templos, na luxúria dos gabinetes, dos ternos e das reuniões?. Não estariam eles mais preocupados em agradar aos “colegas” de ministério, do que defender a ortodoxia bíblica?; Não estão eles inserindo-se completamente no contexto de 2 Tm 3.1-5 e 4.3-5? Ou seria responsabilidade dos profissionais da homilética, mercadores da Palavra e mercantilistas da fé, que além de comercializarem a Palavra de DEUS, estão sempre colocando uma cortina entre a igreja e as verdades bíblicas, salvo raríssimas exceções?. Amaciam o ego da igreja, falando o que ela quer ouvir, ministrando bênçãos em troca de “aleluias”, “glória a Deus”, “convites”, “agenda”, “cachê”, “ofertas”, etc. Desviam a igreja da extrema e urgente necessidade de padecerem as aflições e tribulações por amor de CRISTO.

Devido o aumento da iniqüidade, principalmente dentro da igreja (Mt 24.12; 2 Pe 2.1-3; 1 Jo 2.18-19), o Evangelho tem se tornado cada vez mais duro, mais radical; fazendo-se necessário uma tomada de posição em defesa da Palavra do SENHOR,“Conjuro-te, pois, diante de DEUS, que há de julgar os vivos e os mortos, na vinda do seu Reino, que pregues a Palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, exortes, com toda a longaminidade e doutrina” (2 Tm 4.1-2). Certamente os números recencialistas, tão propagados na mídia, seriam mais modestos diante do recuo de muitos em deparar-se com a verdade do Evangelho (Jo 6.60-66, cf. Mc 10.38). Quando lemos texto como o de Hebreus 5.12-14, imediatamente somos levados à realidade presente de nossas igrejas. Não que tenhamos uma geração de “meninos”, antes fosse assim, mas, estamos vivendo em meio a uma geração espiritualmente anêmica, desnutrida e desprovida até do “leite” inicial. Uma geração despreparada e inconsciente do seu papel como igreja de CRISTO, inconsciente da guerra espiritual que é travada contra a igreja “fiel e verdadeira”. É muito bonito e glorioso pregar sobre o arrebatamento da igreja; muitos explodem em línguas estranhas, glórias a DEUS, etc. Tudo muito bonito e correto. O que não aceitamos é que o panorama mundial, o contexto bíblico e histórico para a igreja do arrebatamento, vem sendo trasvestido, negligenciado, e até mesmo escondido à igreja. A Bíblia relata um tempo de angústia, perseguições, injúrias, dificuldades sócio-econômicas, “espinhos na carne”; todo isso contextualizado apenas no “princípio das dores”, ou seja, para a igreja. Porém, a Bíblia também apresenta uma igreja forte, poderosa, ousada e espiritualmente progressiva, avançando diante das portas do inferno. Realidade essa que tem se restringido a alguns poucos remanescentes fiéis do SENHOR. (é preciso conferir: Mt 7.13-14, 21-23, 10.22, 24-25, 38-39, 11.12, 24.8-13). Por isto a Bíblia diz, contrariando a muitos em seus discursos (“vamos ganhar esta nação, este estado, esta cidade para Cristo”), que poucos são os que encontram a porta da salvação e só através de muito esforço, muita luta e muita tribulação. Você pode crer nestas palavras? Mas... voltemos ao assunto.

Há uma distinção entre a “tribulação” que a Igreja está sujeita, e até mesma obrigada a passar, e a “Grande Tribulação” futura, conforme adverte o apóstolo Paulo em 1 Ts 3.3-4. “Para que ninguém se comova por estas tribulações; porque vós mesmos sabeis que para isto fomos ordenados, pois, estando ainda convosco, vos predizíamos que havíamos de ser afligidos, como sucedeu, e vós o sabeis”.(leia também 1 Ts 5.2,9). Hoje, como igreja, vivemos uma tribulação atribuída às atividades dos homens e/ou de satanás; porém, quando analisamos passagens como Is 24.1, 26.21; Jl 1.15; Sf 1.18; Ap 6.16-17; 7.14; 11.8; 14.10,19; 15.4,7; 16.1,7,19; 19.1-2; não podemos negar que esse período é particularmente à hora em que as atividades serão oriundas da “Ira” e do “Juízo de DEUS” sobre toda a terra. Por esse pequeno particular este evento é chamado de “a Grande Tribulação”.

Os crentes estão implicitamente incluídos na thlipsis ao longo da história. Ficam expostos às tribulações (Mt 24.9), especialmente ao ódio, à traição e a morte. É acima de tudo um tempo de desvio (Mt 24.4-5), um tempo de teste (Mt 13.21; Mc 4.17; Lc 8.13; 1 Pe 4.12-16). Colossense 1.24 torna claro que os cristãos experimentam as aflições em solidariedade a JESUS CRISTO. “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de CRISTO, pelo seu corpo, que é a igreja”. Este é um pensamento natural e familiar nos escritos do apóstolo Paulo. Esta verdade, outrossim, é declarada várias vezes no Novo Testamento. Jo 16.33 “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. ; At 14.22 “Confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de DEUS.”; e expressa de um modo mais claro em 1 Ts 3.3, onde Paulo escreve mandando Timóteo exortar a igreja “A fim de que ninguém se inquiete com as tribulações, porque vós mesmos sabeis que estamos designados para isto - eis touto keimetha ” (1 Pe 2.21). Como resultado, a tribulação já é uma realidade na situação do Novo Testamento. A igreja em Jerusalém (At 11.19), em Corinto (2 Co 1.4), em Tessalônica (1 Ts 1.6, 3.3) e na Macedônia de modo geral (2 Co 8.2), já vivenciavam as aflições que lhes eram designadas pelo amor ao seu SENHOR; aflições essas que tinham sempre o propósito de produzir esperança (Rm 5.3ss). Vejamos como Paulo deixa claro que a igreja tem de passar por essas tribulações:

O texto de Ap 12.10-12 retrata a fúria de satanás para com os fiéis do SENHOR. É bem verdade, como já disse, que o referido texto encontra-se na seqüência cronológica da “Grande Tribulação”. Em observação conjunta com 1 Pe 4.12-14 e 5.8-9, temos o entendimento da forma de atuação de satanás para com a igreja do SENHOR (verifique todo o contexto dos caps. 3-5).

Poderíamos relacionar uma série de versículos que nos remetem tanto a “tribulação” momentânea, como “a Grande Tribulação”, mas, não querendo fazer destas observações algo complexo, optamos por algumas poucas referências, porém, de grande relevância para o assunto.

A Grande Tribulação
 
Diferente de tudo o que já vimos, a Bíblia refere-se a um evento futuro chamado de “A Grande Tribulação”, a qual temos analisado especificamente em Ap 7.14. Esse evento também é encontrado na Bíblia por outros nomes como: “O Dia do SENHOR”, “Dia da Ira de DEUS”, “Angústia de Jacó”. Será o tempo da manifestação do Juízo de DEUS sobre toda a terra. Participam dela o trio satânico (a besta, o anticristo e o falso profeta), os judeus e os gentios, entre estes os crentes não arrebatados. É um evento determinado por DEUS (Zc 13.8-9), onde grande será a angústia (Jr 30.5-7) e acontecerá após a retirada da igreja (2 Ts 2.6-7; Ap 3.10). Mas, ainda podemos relacionar entre os alvos da “Grande Tribulação” o seguinte: 1º- Julgar os que rejeitaram a CRISTO (1 Ts 5.1-11; Ap 6.16-17); 2º- Desnudar a hipocrisia do sistema mundano (2 Ts 2.8; Ap 19.15,20-21); 3º- Desestabilizar o reino do anticristo (2 Ts 2.8) e preparar a humanidade para o estabelecimento do Reino Milenal do SENHOR JESUS.

Há uma observação importante que devemos fazer ao analisarmos tudo que se refere à tribulação. Devemos estar atentos aos fatos e acontecimentos nos dias atuais e confrontá-los com a cronologia bíblica. A “Grande Tribulação” segue uma ordem de eventos de como ocorrerá durante a “70ª Semana de Daniel ”. “Porque haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver”. (Mt 24.21). Apesar da falsa paz, evento que acontecerá nos primeiros 3 ½ anos, não devemos deixar de considerar todo o período da “70ª Semana de Daniel” por a “Grande Tribulação”. Durante a primeira metade da semana haverá perseguição sobre todos os moradores da terra (Ap 13.16-17), mas, não uma perseguição aos moldes do final deste período, porém, uma perseguição sorrateira e disfarçada com a implantação de um sistema político-sócio-econômico, oprimindo a humanidade e submetendo-a ao anticristo. Será retirada a “liberdade” que temos hoje em dia, implantando uma nova “ordem mundial” para o estabelecimento do seu governo. Classificamos a perseguição como “sorrateira” e “disfarçada”, porque para aqueles que certamente se identificarão com o sistema de governo do anticristo, vislumbrando nele e no falso profeta o poder para a solução de todos os problemas (Ap 13.5,7, 11-17) e enganados pelo espírito da mentira (2 Ts 2.3,10-11), será um tempo de grandes soluções; tudo estará bem a princípio. Porém, para os fiéis do SENHOR, será um tempo de angústia e perseguição. Estes serão tidos por infiéis, no ponto de vista mundial, e precisam ser eliminados (Ap 13.7,15). Entretanto, todos os que adorarem a besta se depararão com um final trágico (Ap 13.7-8; 20.15). Para que o anticristo governe e estabeleça a “falsa paz”, terá ele que possuir o domínio sobre todas as nações, estabelecendo assim um governo mundial. Apesar de haver “paz”, não significa dizer que a terra não esteja passando pela “Grande Tribulação”. Este período caracteriza-se pela aquisição do poder e o governo mundial pelo maior adversário de DEUS em toda a história da humanidade (Ap 13).

III - A Salvação na Grande Tribulação. (Ap 6.9-11 e 7.14)

Haverá salvação durante a grande tribulação? Crendo já ter ficado claro que Ap 7.14 não se refere em momento algum aos crentes do arrebatamento, mas, sim aos salvos oriundos do período tribulacional da “70ª Semana de Daniel”; queremos fazer algumas considerações para concluir esta linha de pensamento.
Os comentadores da Bíblia de Estudo Pentecostal fazem a seguinte afirmação acerca desta salvação:

“Durante o período da Tribulação, muitos entre judeus e gentios crerão em JESUS CRISTO e serão salvos (Dt 4.30-31; Os 5.15; Ap 7.9-17, 14.6-7). Será um tempo de grande sofrimento e de perseguição pavorosa para todos quantos permanecerem fiéis a DEUS (Ap 12.17, 13.15). A Grande Tribulação termina quando vier JESUS CRISTO em Glória, com a sua noiva (Ap 19.7-8,14), para efetuar o livramento aos fiéis remanescente e o juízo e destruição aos ímpios (Ez 20.34-38; Mt 24.29-31; Lc 19.11-27; Ap 19.11-21)”. (Bíblia de Estudo Pentecostal, pg 1439).

Em Ap 13.15 temos a clara afirmação acerca da salvação durante a “Grande Tribulação”, onde os opositores da besta serão martirizados. Neste caso, portanto, está mais que provado que haverá salvação durante a “Grande Tribulação”, “E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta”. Não vemos a menor necessidade de incluir em nosso comentário o martírio de judeus, pois também serão mortos e, assim sendo, salvos durante a grande tribulação, por se oporem ao anticristo e ao falso profeta. Esta perseguição aumentará após o rompimento do concerto firmado entre ambos, conforme Daniel 9.27. O objetivo principal deste trabalho é focar a salvação gentílica durante o período tribulacional.
Em seu comentário de Ap 3.10, a Bíblia de Estudo Pentecostal afirma completamente a ocorrência da salvação durante este período.
“Esse período de provação também inclui a ira de satanás contra os fiéis, i.e., contra os que aceitarem a CRISTO durante este período terrível. Para eles haverá fome, sede, exposição às intempéries (Ap 7.16) e muito sofrimento e lágrimas (Ap 7.9-17; Dn12. 10; Mt 24.15-21). Experimentarão de modo indireto as catástrofes naturais da guerra, da fome e da morte. Serão perseguidos, torturados e muitos sofrerão o martírio (Ap 6.11, 13.7, 14.13). Sofrerão as assolações de satanás e das forças demoníacas (Ap 9.3-5, 12.12), violência de homens ímpios e perseguição da parte do anticristo (Ap 6.9; 12.17; 13.15-17). Perderão suas casas e terão de fugir, aterrorizados (Mt 24.15-20). Será um período terrivelmente calamitoso para quem tiver família e filhos (Mt 24.19); será tão terrível, que os santos que morrerem são tidos por Bem-aventurados; porque descansam da sua lida e ficam livres da perseguição (Ap 14.13)”.
(Bíblia de Estudo Pentecostal, pg. 1987).
E completando a distinção entre igreja arrebatada e os salvos da “Grande Tribulação”, segue afirmando:
“Quanto aos vencedores anteriores aquele tempo (ver 2.7 – nota; Lc 21.36 – nota), DEUS os preservará da tribulação, através do arrebatamento, quando os fiéis encontrarão o SENHOR nos ares, antes de DEUS derramar a sua ira (ver: Jo 14.3)...” (Bíblia de Estudo Pentecostal, pg. 1987).
Para que não venha haver salvação durante “a Grande Tribulação”, teremos que encontrar uma forma diferente de entender o que a Bíblia relata sobre alguns fatos, o que inevitavelmente nos provoca algumas perguntas. Dentre elas:

1º- Qual é a finalidade dos 144.000 selados de Israel? Onde, a quem e porque terão eles um ministério?
2º- Apenas os Judeus participarão do Milênio? Haverá outras nações (povos/raças) oriundas da “Grande Tribulação” participando do Milênio?
3º- Apenas os judeus sobreviveram a “Grande Tribulação”?
4º- Quem são os salvos que morreram por não adorarem a besta e rejeitarem seu sinal durante “a Grande Tribulação” Ap 20.4? Seriam apenas judeus?

Há um plano Divino para as nações gentílicas que deverá se cumprir no período da “Grande Tribulação”, a fim de conduzi-las a salvação e a benção do Milênio (Is 49.6, caps. 60,62-63). Temos uma revelação pelo próprio SENHOR em Mt 25.31-40, onde na sua volta em glória irá apartar os “bodes das ovelhas”, entre todas as nações, afirmando assim a entrada de gentios no Reino Milenar.

Diante de tamanha clareza bíblica acerca do tema aqui tratado, não havia necessidade de se utilizar tantas referências extras bíblicas como temos feito. O uso dessas referências é por sabermos que estamos vivendo o pleno cumprimento profético de 2 Tm 3.1-5 e 4.3-5, como já citados anteriormente. Infelizmente, para os homens, necessitamos dos “mesmos” para subsidiar algo tão claro e notório na Palavra de DEUS; como se houvesse a necessidade da criação confirmar as Palavras do Criador (Is 29.16, 45.9; Rm 9.20). Mas enquanto houver coerência bíblica, nas palavras dos homens, recorreremos aos “tais” para a satisfação dos “mesmos”. Dar-lhes-emos aquilo que os “próprios” querem, crêem e confiam, conquanto que o nome de CRISTO seja glorificado. Sendo assim... . Em seu livro “Nosso Destino”, o Dr. Stanley Horton comenta algo muito proveitoso.

“Um dos anciãos diz a João que esses vestidos de vestes brancas são os que vieram da grande tribulação... .Portanto, a ‘multidão a qual ninguém podia contar’, seria o número completo dos remidos que terminaram o seu tempo de provação na terra e que estão diante de DEUS. Assim sendo, vêm da grande tribulação final e são mártires acrescentados ao número de conservos e irmãos revelados na visão do quinto selo...”. (Nosso Destino, pg. 100).

IV - Conclusão
 
Em momento algum estamos defendendo uma vida relapsa por conta dos cristãos de hoje ao defendermos a possibilidade da salvação durante o período da “Grande Tribulação”, o que certamente dificultará e poderá causar a perca da salvação, principalmente por ser o arrebatamento para a igreja uma oportunidade ímpar à salvação; única em suas particularidades. Veja o conselho bíblico em Ap 20.6.

Hoje, vivemos em um mundo com plena liberdade de fé, de culto, de pensamentos, de trânsito e até, em alguns particulares, liberdade em nossas vontades, com algumas poucas exceções. Com toda essa “liberdade” necessitamos, ainda assim, empregar muito esforço para alcançar a salvação (Lc 16.16).

Vislumbrando o panorama atual e com todas essas “regalias”, não tem sido nada fácil manter uma vida santa, casta e irrepreensível como nos orienta a Palavra. Sendo assim, o que então não está reservado aos que tiverem que passar pelo “Grande Dia do SENHOR”? Fome, pestes, guerras, perseguições, violência, martírios, escravidão, controle total de ações, catástrofes naturais, tudo isso em proporções jamais vistas na história da humanidade. (Ap caps. 6-19)

Esperamos ter, de alguma forma, ajudado algum leitor a chegar à consciência, ao despertamento de que o tempo é hoje para se buscar e conservar a salvação. Como diz o escritor aos Hebreus. Hb 2.3

Sugerimos para uma leitura complementar as referências: Mt 11.12, 24.12-13; Lc 13.23-24, 18.8; Rm 11.21-22; 1 Co 1.8, 10.12; Fp 2.14-15; Cl 1.21-23; 1 Ts 3.13, 5.23; 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1; 2 Tm 3.1-5, 4.3-5. É imprescindível a leitura de todas as referências citadas para o entendimento contextual (bíblico) do tema aqui analisado.



Marcello Melo

FONTE:
http://www.webservos.com.br/gospel/estudos/estudos_show.asp?id=2409

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